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Rito I

Maioridade:

Era uma vez

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“As portas para o mundo do Ser selvagem são poucas, porém preciosas. Se você tem uma cicatriz profunda, aí está a porta, se você tem uma velha história, aí está a porta. Se você ama os céus e as águas como ama a si mesmo, aí está a porta. Se você anseia por uma vida profunda, uma vida plena, uma vida sã, aí está a porta. "  (Clarissa Pinkola Estes) 

 

A performance Era uma vez, foi orientada como um rito de passagem tardio, abrindo espaço no tempo para sentir e lembrar o devir despercebido da puberdade. De puro branco, vesti a perda da inocência, vivenciando a intensidade do sofrimento e da tragédia. Uma burca vermelha era o símbolo ressonante da jovem despercebida, carregando uma cesta de papoulas de plástico.

Os recursos do movimento foram um diálogo entre os ambientes mental e emocional, respondendo ao lugar, e a presença ameaçadora de uma figura masculina nua com máscara de lobo mesclada na paisagem. O vermelho enfatizava a posição de um alvo, em contraste com o cinza claro e verde da floresta, entrelaçada com as etapas desafiadoras que se seguiram por anos e foram marcadas pelos Oito Ritos.  A serie, registrada por Egberto Alves e Ryan Donnelly durante uma performance íntima realizada na floresta, em 2011, no interior de São Paulo.

 

O espaço para brincar e lembrar a “idade adulta” desapercebida e a minha primeira menstruação, que chegou numa casa turbulenta, dois meses antes que eu completasse 15 anos. Senti a necessidade de esconder de alguma forma o sangue vermelho que estava jorrando fora do meu controle. Minha família tinha a tradição da debutante que acontece por volta dos 15 ou 16 anos, que celebra a entrada da jovem à sociedade e à vida adulta. A celebração  acontece com uma série de ações que simbolizam a passagem da infância para a idade adulta e a preparação para o casamento. No meu caso não aconteceu assim a maioridade passou desapercebida. A celebração é concebida como a passagem da luz para a escuridão, seguida de anos de desenraizamento, distúrbios alimentares, turbulências emocionais e uma sequência de episódios traumáticos.

Apoiada pelo meu parceiro Ryan, um ano após nosso casamento, eu estava na casa dos 20 anos e estávamos entrando em contato com camadas de emoções armazenadas e adormecidas em meu corpo durante a primeira fase da nossa relação. Ryan desempenhou um papel importante, tanto catalisador, como testemunha desse processo. De alguma forma, ele estava aberto para me ver de uma forma que ninguém via, e este era meu ponto de confiança e vulnerabilidade para avançar aprofundando as relações com as sombras e, em nosso relacionamento, como um casal. Na época eu estava lendo Mulheres que Correm com Lobos, que trazia à  superfície  a fabula, O Chapeuzinho Vermelho. Esse conto foi o único que lembro de um livro que ganhei por volta dos quatro anos de idade.

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1- Clarissa Pinkola Estés autora de Mulheres que Correm com os Lobos: Mitos e Histórias do Arquétipo da Mulher Selvagem, ano, Editora Rocco Tradução de Waldéa Barcellos

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